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Ontem foi dia E se fosse eu? na escola. No primeiro tempo da manhã os alunos viram um video e debateram a questão E se fosse eu?. Cumpriu-se o dever lectivo. No entanto, não posso deixar de  considerar que  tal "actividade" está revestida, inquinada, de uma profunda hipocrisia, digna de um país armado em fino, que até quer receber refugiados, mas que também não se importa de pagar à Turquia para que esta os mantenha lá longe.

Enquanto professor acredito que a Escola não cumprirá a sua função se apenas ensinar os conteúdos programáticos, replicando-os, com o objectivo de atingir as tão famigeradas metas. Se a função do professor é essa, é uma pobre função e uma pobre profissão. O professor deve, também, alertar, fazer os alunos pensar para além de. Fazer ver aos alunos que até uma bola tem dois lados: o de dentro e o de fora.

Assim, hoje, e depois de cumprido o dever lectivo, dei a minha opinião aos alunos sobre a actividade E se fosse eu?. E disse-lhes que a poderiam partilhar em casa com os pais. Disse-lhes que não concordava com a referida actividade. E coloquei-lhes a questão: E se fosse eu? Todos responderam o que levariam nas respectivas mochilas. Até aqui, tudo bem. Mas, depois, perguntei: E se fosse eu a receber um refugiado em minha casa? E, aí, as respostas prontas converteram-se em silêncio. Um silêncio incómodo. Olhavam-se entre eles. Mostravam surpresa. Nenhum deles me deu uma resposta. Nada. Só admiração, espanto. Perguntei se dividiriam o quarto deles com um refugiado da idade deles. A maior parte disse que não. E foram bastante incisivos no não. Todos souberam fazer uma mochila, num instante, se fossem eles. Mas receberem alguém com uma mochila em casa: não é assim tão fácil.

E penso que é neste último ponto que toda a campanha falha. Excepto na fanfarra mediática. Essa foi cumprida. Sem qualquer sombra de dúvida.

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